Decidi escrever sobre um problema que
venho enfrentando há um tempo, a ansiedade. Desde pequena me sentia agitada em certos
momentos, o que é normal. Antes de provas, aniversários, viagens ou
comemorações marcantes. Com o passar do tempo ela sumiu. Aos 19 anos, notei que
ela havia voltado – talvez nunca tivesse ido embora –. Eu estava no cursinho,
um período muito complicado da minha vida. Expectativas, frustrações, medo,
insegurança, desespero, cansaço e lagrimas. Não se assuste, nem tudo foi ruim.
Tive bons momentos, grandes amigos, risadas, aprendizado e amadurecimento.
Eu tinha um sonho, ser uma boa
jornalista, contar histórias, ver o sorriso do próximo com o pouco que posso
fazer. Queria estudar na UEL (Universidade Estadual de Londrina), me esforcei,
me dediquei, mas infelizmente, por pouco, não consegui meu lugar nas cadeiras
daquela faculdade. Lembro-me de passar mal antes das provas, sentia vontade de
vomitar e meu coração pregava-me peças, acelerando e desacelerando. Nervosismo,
normal, não? Aquilo era muito mais que
uma prova, era um ano inteiro de dedicação e escolhas.
A vida me mostrou que nem sempre o que
queremos é a melhor opção. Fui agraciada com algo melhor. Entrei na UFMS (Universidade
Federal do Mato Grosso do Sul), no começo fiquei triste por não ser o que
queria, – nunca sequer ouvi falar dessa universidade –, mas logo percebi os
planos que Deus tinha para mim. Tudo era
muito diferente do que estava acostumada, as pessoas, o ambiente, o clima.
Enfrentei problemas com fortes enxaquecas em menos de duas semanas sozinha na
cidade. É, sair de casa é realmente para quem tem coragem. Eu tinha 20 anos.
Me adaptei e tudo corria bem. Conquistei
amigos, momentos, vontades e mais sonhos. Porém, comecei a perceber uma certa
inquietação, contava os dias para voltar para casa. Na época namorava e
acreditava que isso era o motivo de minha agitação. Com o passar do tempo
percebi que não, mas procurava me controlar e manter o problema para mim.
Certa noite, eu assistia desenho – sim,
gosto muito de assistir desenho para dormir – quando percebi meu coração bater
em um ritmo diferente do habitual, as batidas eram fortes e descompassadas,
algo estava errado. Respirei. Inspirei. Respirei novamente tentando manter a
calma, meu peito doía. Pensei “Não é possível
que estou enfartando caos 20 anos ”. Liguei para uma amiga, ela me acalmou, falou
comigo, pediu para eu respirar e manter a calma. Depois de um tempo deixando o
ar entrar e sair dos meus pulmões calmamente, eu dormi.
Na hora do desespero mandei uma mensagem
para minha mãe dizendo que precisaria de um cardiologista pois não me sentia
bem, quase matei ela de susto. Em menos de uma semana já estava na minha cidade
realizando uma bateria de exames. O
resultado só comprovou o que eu sempre imaginei: sofria de ansiedade e
precisava cuidar disso com remédio.
O médico decidiu que seria melhor um
tratamento mais longo, porém com melhores resultados. Durante seis meses eu
tomei todas as manhãs 10 gotas do bendito remédio. Nos primeiros dias eu me
senti pior, os sintomas multiplicaram. Depois de um mês já pude notar a
diferença. A calma aos poucos se instalou em mim e em algumas vezes até me
senti mais lenta. Minha mãe notou a diferença. Disse que estava mais “tranquila
de tudo”. De certo estava, mas isso não era ruim, de jeito nenhum. Não fomos
feitos para a agitação que é nossas vidas, corre para cá, faz isso, faz aquilo,
volta. Não, é preciso desacelerar.
A
Organização Mundial da Saúde (OMS), mostrou em pesquisas recentes que o Brasil
lidera o ranking na América Latina e no mundo com 9,3% da população com algum
tipo de transtorno de ansiedade. A taxa é três vezes superior à média
mundial. Eu estou entre essa
estatística.
O tratamento acabou. No início sentia
minha cabeça pesada e meu estomago enjoado. Com o tempo os sintomas passaram.
Hoje me sinto muito melhor, o nó invisível que se fazia presente vez ou outra
na minha garganta desapareceu. Não vou dizer que não tenho episódios de ansiedade,
sim, ainda tenho, mas são poucos. Acho que é cedo para afirmar muita coisa.
O ruim da ansiedade é não saber o motivo
que te deixa ansiosa. “Um dia de cada vez” minha mãe me diz, isso se tornou
nosso mantra. Sempre que me sinto agitada penso nisso. Algumas pessoas tiram
sarro, dizem “sou ansiosa” quando na verdade sequer sabem como é se sentir
assim. Sou abençoada por ter um nível baixo do problema, e mesmo assim me sinto
mal.
Isso não é brincadeira. Dá vontade de
correr, gritar, fazer qualquer coisa que me deixe mais leve por dentro, não é
legal se sentir assim, não é mesmo. Cada
um tem uma maneira de lidar com o assunto, eu procuro desacelerar meus
pensamentos, pensar em uma coisa de cada vez, fazer algum esporte para aliviar
a carga que carregamos diariamente. Nem
sempre dá certo.
É importante que diga aos seus amigos,
ou pessoas próximas como se sente, isso ajuda, se permitir mostrar e saber que
isso não é normal, é o primeiro passo para a melhora. Não sou apta a dizer o
que é preciso ser feito, creio que um acompanhamento psicológico ajude. No meu
caso, nunca procurei um, mas não descarto a ideia. Afinal, todos somos seres
humanos que insistem em carregar o mundo nas costas. Costumo dizer que dividir
sempre é a melhor opção, não acha?
A melhora não acontece do nada, ou
simplesmente por tomar um remédio, é um exercício diário. É a organização de
pensamentos, sentimentos e anseios. É diminuir expectativas, dedicar-se a
manter a mente tranquila, mas acima de tudo é um autoconhecimento, é controle
sobre si próprio, é amadurecimento.
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