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segunda-feira, 27 de março de 2017

Nó Invisível

Decidi escrever sobre um problema que venho enfrentando há um tempo, a ansiedade.  Desde pequena me sentia agitada em certos momentos, o que é normal. Antes de provas, aniversários, viagens ou comemorações marcantes. Com o passar do tempo ela sumiu. Aos 19 anos, notei que ela havia voltado – talvez nunca tivesse ido embora –. Eu estava no cursinho, um período muito complicado da minha vida. Expectativas, frustrações, medo, insegurança, desespero, cansaço e lagrimas. Não se assuste, nem tudo foi ruim. Tive bons momentos, grandes amigos, risadas, aprendizado e amadurecimento.
Eu tinha um sonho, ser uma boa jornalista, contar histórias, ver o sorriso do próximo com o pouco que posso fazer. Queria estudar na UEL (Universidade Estadual de Londrina), me esforcei, me dediquei, mas infelizmente, por pouco, não consegui meu lugar nas cadeiras daquela faculdade. Lembro-me de passar mal antes das provas, sentia vontade de vomitar e meu coração pregava-me peças, acelerando e desacelerando. Nervosismo, normal, não?  Aquilo era muito mais que uma prova, era um ano inteiro de dedicação e escolhas.
A vida me mostrou que nem sempre o que queremos é a melhor opção. Fui agraciada com algo melhor. Entrei na UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul), no começo fiquei triste por não ser o que queria, – nunca sequer ouvi falar dessa universidade –, mas logo percebi os planos que Deus tinha para mim.  Tudo era muito diferente do que estava acostumada, as pessoas, o ambiente, o clima. Enfrentei problemas com fortes enxaquecas em menos de duas semanas sozinha na cidade. É, sair de casa é realmente para quem tem coragem. Eu tinha 20 anos.
Me adaptei e tudo corria bem. Conquistei amigos, momentos, vontades e mais sonhos. Porém, comecei a perceber uma certa inquietação, contava os dias para voltar para casa. Na época namorava e acreditava que isso era o motivo de minha agitação. Com o passar do tempo percebi que não, mas procurava me controlar e manter o problema para mim.
Certa noite, eu assistia desenho – sim, gosto muito de assistir desenho para dormir – quando percebi meu coração bater em um ritmo diferente do habitual, as batidas eram fortes e descompassadas, algo estava errado. Respirei. Inspirei. Respirei novamente tentando manter a calma, meu peito doía.  Pensei “Não é possível que estou enfartando caos 20 anos ”. Liguei para uma amiga, ela me acalmou, falou comigo, pediu para eu respirar e manter a calma. Depois de um tempo deixando o ar entrar e sair dos meus pulmões calmamente, eu dormi.
Na hora do desespero mandei uma mensagem para minha mãe dizendo que precisaria de um cardiologista pois não me sentia bem, quase matei ela de susto. Em menos de uma semana já estava na minha cidade realizando uma bateria de exames.  O resultado só comprovou o que eu sempre imaginei: sofria de ansiedade e precisava cuidar disso com remédio.
O médico decidiu que seria melhor um tratamento mais longo, porém com melhores resultados. Durante seis meses eu tomei todas as manhãs 10 gotas do bendito remédio. Nos primeiros dias eu me senti pior, os sintomas multiplicaram. Depois de um mês já pude notar a diferença. A calma aos poucos se instalou em mim e em algumas vezes até me senti mais lenta. Minha mãe notou a diferença. Disse que estava mais “tranquila de tudo”. De certo estava, mas isso não era ruim, de jeito nenhum. Não fomos feitos para a agitação que é nossas vidas, corre para cá, faz isso, faz aquilo, volta. Não, é preciso desacelerar.  
 A Organização Mundial da Saúde (OMS), mostrou em pesquisas recentes que o Brasil lidera o ranking na América Latina e no mundo com 9,3% da população com algum tipo de transtorno de ansiedade. A taxa é três vezes superior à média mundial.  Eu estou entre essa estatística.
O tratamento acabou. No início sentia minha cabeça pesada e meu estomago enjoado. Com o tempo os sintomas passaram. Hoje me sinto muito melhor, o nó invisível que se fazia presente vez ou outra na minha garganta desapareceu. Não vou dizer que não tenho episódios de ansiedade, sim, ainda tenho, mas são poucos. Acho que é cedo para afirmar muita coisa.
O ruim da ansiedade é não saber o motivo que te deixa ansiosa. “Um dia de cada vez” minha mãe me diz, isso se tornou nosso mantra. Sempre que me sinto agitada penso nisso. Algumas pessoas tiram sarro, dizem “sou ansiosa” quando na verdade sequer sabem como é se sentir assim. Sou abençoada por ter um nível baixo do problema, e mesmo assim me sinto mal.
Isso não é brincadeira. Dá vontade de correr, gritar, fazer qualquer coisa que me deixe mais leve por dentro, não é legal se sentir assim, não é mesmo.  Cada um tem uma maneira de lidar com o assunto, eu procuro desacelerar meus pensamentos, pensar em uma coisa de cada vez, fazer algum esporte para aliviar a carga que carregamos diariamente.  Nem sempre dá certo.
É importante que diga aos seus amigos, ou pessoas próximas como se sente, isso ajuda, se permitir mostrar e saber que isso não é normal, é o primeiro passo para a melhora. Não sou apta a dizer o que é preciso ser feito, creio que um acompanhamento psicológico ajude. No meu caso, nunca procurei um, mas não descarto a ideia. Afinal, todos somos seres humanos que insistem em carregar o mundo nas costas. Costumo dizer que dividir sempre é a melhor opção, não acha?
A melhora não acontece do nada, ou simplesmente por tomar um remédio, é um exercício diário. É a organização de pensamentos, sentimentos e anseios. É diminuir expectativas, dedicar-se a manter a mente tranquila, mas acima de tudo é um autoconhecimento, é controle sobre si próprio, é amadurecimento.




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