Ela corre como quem anseia por salvar o mundo, como quem tem
hora pra chegar. Como se suas pernas fossem feitas de elástico. Corre depressa,
suas passadas são longas. Respira fortemente. Sua barriga dói resultado da má
respiração. Vai parando devagar até que para por completo. Olha para cima. O
céu está cheio de estrelas. Ela as admira, sente o vento tocar-lhe o rosto.
Coloca as mãos na cintura, puxa o ar para os pulmões, expira.
Quem vem do lado oposto da via, a julga apenas mais uma
pessoa que preza por saúde física. Quem dera fosse isso, quem dera fosse
meramente estética. Ela corre porque a vida é apressada demais, e por ser tão
apressada aperta seu coração e a sufoca com nó na garganta que se desfaz depois
de grandes explosões de adrenalina.
Há um tempo ela descobriu que correr funciona como uma válvula de escape para seu coraçãozinho ansioso. Mais do que isso, correr se tornou um momento dela com o mundo, com seus muitos pensamentos- alguns precipitados, outros nem tanto-, seu momento de segurar firme as rédeas, antes tremulas, da sua vida. Dizer para si que não há razão para alarde. Tudo no seu tempo”- pensa enquanto corre. Ela não gosta de músicas nesse momento, ouvir seus pés baterem no chão, sua respiração e o sussuro do vento é a parte que mais gosta.
O objetivo dessa corrida? A exaustão física, a libertação
mental. O suor escorre por suas costas, testa, braços e pernas. É uma noite
quente no centro oeste brasileiro. Ela faz tiros curtos e se esforça ao máximo.
Para, caminha, respira. Sente-se mais leve. Repete a corrida algumas vezes até sentir seu
corpo ferver.
No caminho de volta
para casa, sua mente está limpa feito papel branco. Ela se concentra na
respiração até que ela se normalize. Já em casa, o banho é o último estágio
desse processo. É onde deixa o suor- cheio de cargas diárias- descerem -junto a
todo pensamento desnecessário- pelo ralo.
Ela se enrola na toalha ainda molhada e deita-se na cama, exausta,
tranquila. Ela tem a paz que precisa.
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